DUQUE DE CAXIAS - Centenas de pessoas que se dirigiram ao Hospital Infantil Ismélia da Silveira, no Centro de Duque de Caxias, na Ba...
DUQUE DE CAXIAS - Centenas de pessoas que se dirigiram ao Hospital Infantil Ismélia da Silveira, no Centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na manhã desta segunda-feira, enfrentaram filas imensas, que começaram a se formar por volta do meio-dia de domingo. Por volta das 9h30, o prefeito Washington Reis chegou à unidade, onde foi recebido com vaias.
A primeira pessoa a chegar na fila, identificada apenas como Regina, foi preparada para a longa espera, como mostrou o "Bom dia Rio", da TV Globo. Afinal, as senhas só começariam a ser distribuídas às 7h desta segunda-feira.
A mulher que tentava atendimento para o neto, que tem necessidades especiais, levou cobertor, uma garrafa térmica com café, frutas e empadão e água. Algumas mães passaram a madrugada na fila acompanhada dos filhos pequeno.
- Foi uma tortura. A pessoa fica aqui dormindo no relento. Infelizmente temos de passar por isso, acho uma falta de respeito conosco. Mas, se não fizermos isso a gente não tem o atendimento adequado para nossas crianças - disse à reportagem.
Com atendimento em várias especialidades pediátricas, a unidade só faz marcação de consultas uma vez por mês. Muita gente que driblou o frio da madrugada, que atingiu 14 graus, voltou pra casa para casa sem conseguir a senha que garantiria o agendamento.
É o caso da dona de casa Martha Nunes, de 63 anos, que buscava atendimento psicológico para o neto Matheus, de 10. A mulher contou ter chegado na unidade às 4h da madrugada e, por volta das 5h30, foi informada por funcionários de que as senhas se esgotariam antes de chegar a sua vez. É que havia uma 80 pessoas na frente dela e só seriam distribuídas pouco mais de 20 senhas para essa especialidade.
- Estou pasma. Fui perguntar porque não consegui atendimento e disseram que não é aqui porque meu neto é adolescente. Mas ele só tem 10 anos. Estou perturbando porque estou precisando. Disseram que o próximo agendamento será em 2 de setembro. Estou boba. Não estou aceitando. Será falta de sorte? - questionou a moradora na Vila Operária.
O menino, que passou a apresentar sinais de agressividade depois de presenciar uma briga doméstica, foi encaminhado ao atendimento psicológico pela escola, em março. Mas até hoje não conseguiu ser consultado.
- É a quarta vez que tento - contou sua avó.
Mayara Augusto Soares, de 23 anos, moradora no bairro Centenário, também foi embora sem conseguir senha para atendimento do filho Júlio César, de 2 anos e cinco meses. A mãe contou que o menino tem hérnia e desvio no testículo, precisando ser operado antes de completar 3 anos, por orientação médica. Há um ano ela tenta a cirurgia pediátrica, sem sucesso.
- Descobri o problema quando ele estava com 1 ano e 2 meses. Desde então venho tentando a cirurgia. É uma vergonha. As pessoas enfrentam essa fila enorme e não conseguem atendimento. Vou tentar em outro lugar, pois estou correndo contra o tempo - disse a mulher, que chegou na unidade às 6h.
Sara Moraes, de 31 anos, moradora no Centro de Caxias, também chegou às 6h e foi embora por volta das 9h sem conseguir marcar a consulta pediátrica para o sobrinho Gabriel, de 5 anos. Diante da demora e a desorganização, ela desistiu de esperar:
- Tinha uma fila aqui fora que estava andando, mas, depois que resolveram colocar todo mundo para dentro (depois da chegada da imprensa), acabei perdendo o meu lugar. Não vou poder esperar. Deixei dois filhos pequenos em casa e preciso mandá-los para a escola. É um descaso, absurdo. Infelizmente estamos largados, a mercê disso. Volto para casa sem conseguir marcar a consulta e retornarei no mês que vem. Desde que peguei encaminhamento é a quinta vez que venho aqui - reclamou.
Larissa de Oliveira, de 26 anos, teve mais sorte. Chegou às 7h e as 9 h já estava indo embora, após conseguir a consulta de rotina com o pediatra para o filho Ravi, de 8 meses.
- Dei sorte - resumiu.
Prefeito é recebido com vaias
O prefeito Washington Reis chegou ao hospital no meio da manhã e foi recebido com vaias. A recepção fez com que a visita se resumisse a menos de 5 minutos. Ainda do lado de fora , foi interpelado por Luana da Conceição Santana, de 24 anos, que reclamou do atendimento.
- Meu filho de 3 anos teve pneumonia 13 vezes e não melhora. Os pneumologistas só sabem passar antibióticos. Quero um diagnóstico - cobrou.
O prefeito recomendou que ela falasse com o secretário de Saúde José Carlos de Oliveira, que é médico e acompanhava a visita, mas ficou sem a resposta. Por volta das 8h30, após a repercussão da confusão na imprensa, funcionários acomodaram todos que aguardavam do lado de fora nos corredores internos do hospital. A fila só mudou de lugar.
Washington Reis alegou que a grande demanda é causada pela migração de pacientes de municípios vizinhos, incluindo a capital, para a unidade. Ele prometeu ampliar o quadro de médicos, hoje composto por 20 profissionais, e melhorar o sistema de informática, de modo que a marcação de consulta, hoje presencial, possa ser feita por telefone em breve. O número de um call center chegou a ser divulgado, mas Reis preferiu deixar para fazer o anúncio oficial somente com o serviço ativo, para não frustrar o público.
- A demanda é enorme mesmo, até porque o hospital infantil fica no limite com a cidade do Rio de Janeiro e migram para cá centenas de pessoas. É nossa rotina. Estamos ampliando serviços. Vou abrir um hospital infantil em Parada Angélica, no limite de Magé, para atender o terceiro distrito. Vamos entregar esse ano nossa maternidade, que vai abrir espaços no (hospital) Moacyr do Carmo. Estamos trabalhando. Não adianta reclamar. Tem que fazer. Estamos buscando recursos em Brasília e parceria com o Estado. O trabalho não para um minuto - afirmou o prefeito, acrescentando que o hospital, que funciona 24 horas com emergência e sem internações, tem uma grande demanda, principalmente, em neurocirurgia e neuropediatria.
Via Extra
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