DUQUE DE CAXIAS - Dentre os municípios da Baixada Fluminense, Duque de Caxias chama a atenção por dois fatores: é o único a não ter de...
DUQUE DE CAXIAS - Dentre os municípios da Baixada Fluminense, Duque de Caxias chama a atenção por dois fatores: é o único a não ter determinado o fechamento do comércio diante da pandemia do novo coronavírus. Até o domingo (29), era também a cidade com mais casos confirmados na região —5, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Na tarde da segunda (30), Nova Iguaçu, com mais do dobro da população (787 mil e 341 mil pessoas, respectivamente), registrou 7 casos e passou Caxias.
O prefeito da cidade, Washington Reis (MDB), vem tomando uma série de medidas que visam o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, como a criação de um portal com boletins diários sobre a doença, a vacinação em sistema de “drive thru” e a criação de novos leitos para receber infectados pelo vírus.
No entanto, a medida que reduziria consideravelmente a circulação de pessoas na cidade ainda não figura entre as prioridades do chefe do executivo municipal, e o comércio segue funcionando.
Algumas prefeituras da Baixada Fluminense determinaram o fechamento do comércio mesmo antes de haver registro oficial de infectados pelo novo coronavírus. Foi o caso de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis, Queimados, Japeri, Paracambi e Magé.
Tido como reduto bolsonarista, Duque de Caxias foi o município da Baixada que entregou mais votos, em termos absolutos, ao então candidato Bolsonaro em 2018 —foram 300.227 (68,79%), seguido por Nova Iguaçu, com 291.877 (72,48%). Em 2018, pouco após as eleições, foi inaugurado em Caxias o 3º colégio da PMERJ, chamado Percy Geraldo Bolsonaro, em homenagem ao pai do então presidente eleito.
Agora, Caxias é também a cidade da Baixada mais alinhada ao discurso do presidente, que vem criticando o isolamento social como forma de combate à Covid-19.
“Caxias é um dos PIBs mais importantes do estado, mas isso não gera enfrentamento às desigualdades raciais e de classe. Então imagina nesse cenário do coronavírus, com essa fala irresponsável dos gestores, balizada pelas religiões neopentecostais e pelas milícias, nas comunidades”, diz Fransérgio Goulart, 47, coordenador da Iniciativa de Direito à Memória e Justiça Racial, organização da Baixada Fluminense que lida com políticas de segurança pública e racismo. “É óbvio que as comunidades da Baixada e de Caxias serão mais afetadas, os negros e mais pobres é que vão sofrer mais”, afirma.
Militares fazem desinfecção em transporte público no Rio; veja fotos de hoje
Ainda de acordo com Fransérgio, o grande desafio será promover um diálogo com os eleitores do presidente, pessoas também próximas que frequentam as igrejas neopentecostais, importantes validadoras dos discursos mais radicais da religião em detrimento da ciência. “Como fazer esse diálogo de conscientização e também de articulação solidária, pra tentar minorar os efeitos [dessa política], fazer chegar um caminhão pipa, que a prefeitura não faz?”, pergunta.
“O prefeito não formalizou um decreto para fechar o comércio, como os outros prefeitos aqui perto. Ele poderia ter um pouco de consciência e decretar, já que é uma Pandemia, questão de saúde”, opina José Wilton, 42, comerciante do Pilar, bairro do 2º Distrito.
Diante desse cenário, surgem iniciativas para tentar diminuir o impacto da chegada do coronavírus na cidade. O grupo Movimenta Caxias vem promovendo, através das redes sociais, uma campanha de arrecadação de material de higiene e alimentos não perecíveis para doação. “Em tempos de tantas dificuldades, nós temos que nos juntar para ajudar quem precisa”, afirma o grupo em sua campanha online de socorro.
Outra é a #CoronaNaBaixada, uma união de organizações e coletivos (Fórum Grita Baixada, Casa Fluminense, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, Movimenta Caxias, entre outros) que também faz campanha para oferecer a pessoas mais pobres acesso a itens básicos de higiene.
Via Folha de São Paulo
Via Folha de São Paulo
COMENTÁRIOS