'Saí, Satanás', disse o deputado Rosenverg Reis, ao fazer cobrança por vacina. Mãe de professora tem câncer e já esteve em fila por ...
'Saí, Satanás', disse o deputado Rosenverg Reis, ao fazer cobrança por vacina. Mãe de professora tem câncer e já esteve em fila por segunda dose duas vezes.
Uma professora foi hostilizada pelo deputado estadual Rosenverg Reis (MDB), irmão do prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MBD), ao cobrar vacinas em meio ao tumulto na campanha de imunização contra a Covid no município da Baixada.
Depois de um fim de semana sem vacinação na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a desorganização voltou a tomar conta dos pontos de vacinação contra a Covid na cidade. Com poucos postos de imunização, com abertura prevista para às 8h desta segunda-feira (26), filas quilométricas de pedestres e de carros se formavam desde a madrugada.
Moradores reclamam que já estão com a segunda dose da vacina atrasada e não conseguem concluir a imunização. Uma delas foi a professora Cíntia Dias.
Ela cobrava dos políticos a segunda dose da vacina contra a Covid quando discutiu com Rosenverg. A mãe da Cíntia, a dona Mirna, deveria ter recebido o imunizante dez dias atrás e até agora, não conseguiu.
Segundo Cíntia, a segunda dose é muito importante para a Dona Mirna porque ela tem câncer no sangue e está à espera de um transplante de medula.
“Não tem vacina, incompetentes. A minha mãe tem câncer. Segunda vez que enfrento essa fila e não tem vacina”, disse Cíntia. “Quero vacina”, prosseguiu.
“Saí, Satanás”, respondeu o deputado.
Mais tarde, Cíntia explicou o motivo do desespero de sua família com a demora na segunda dose da mãe. “Como ela está em tratamento oncológico, ela está o tempo todo em hospital, fazendo exames, com quimioterapia e a gente precisa muito. A gente tá o tempo todo exposto a esse vírus. Pra ela o vírus pode ser fatal, já que ela está com a imunidade muito baixa por conta da doença que ela tem”, afirmou.
“Eu fui tratada como um verdadeiro lixo por um representante do povo”, lamentou.
O RJ2 entrou em contato com o deputado, mas não obteve resposta.
A mãe da Cíntia tomou a primeira dose da Coronavac no dia 26 de março. Nesta segunda, foi a segunda vez que tentaram a segunda dose.
Em Caxias, a prefeitura não guardou a segunda dose para quem tomou a primeira de Coronavac, como recomenta o Plano Nacional de Imunização. O prefeito Washington Reis se recusa a fazer a reserva. A procura pela segunda dose leva idosos a enfrentar madrugadas frias e longas filas.
Por causa da falta de organização, quem precisa da Coronavac vai todos os dias aos postos para tentar conseguir a vacina o que gera muita aglomeração. Mas o prefeito diz que esse não é um problema dele.
”Eu não sou hipócrita, eu não organizo fila, eu não chamo ninguém pra vir pra fila, a gente comunica pelas redes sociais, a gente não domina as pessoas, nós não sabemos da onde vem as pessoas, isso é hipocrisia, eu não engano ninguém”, diz Washington Reis.
Medo de perda de efeito
Com a confusão em Caxias, moradores temem que a primeira dose perca o efeito. Segundo o infectologista Marcos Junqueira do Lago, o atraso para a segunda dose não deve ultrapassar duas semanas.
“Quado a gente diz que a [segunda dose da] Coronavac tem que ser feita 28 dias depois e a Astrazêneca 3 meses depois, é porque estes são os melhores tempos para fazer a segunda dose. Onde vai ter o melhor aproveitamento da vacina. Então este prazo precisa ser respeitado. Se você perdeu o prazo da segunda dose por mais de 2 semanas, o ideal é você reiniciar a vacinação, tomando uma outra dose como se fosse a primeira e 28 dias depois ou 3 meses depois tomar a segunda dose, desconsiderando a primeira dose e tomando a segunda dose", disse o infectologista.
A Justiça já determinou que Caxias cumpra o programa nacional de imunização. A multa estabelecida é de cinquenta mil reais por dia para o prefeito Washington Reis e para o secretário de saúde, Antônio Manoel de Oliveira Neto. Mas, como cabe recurso, o processo pode se arrastar por anos e nem a multa é possível de ser cobrada, antes da conclusão da ação.
Na semana passada, promotores sugeriram uma intervenção parcial no município. Querem que a Secretaria Estadual de Saúde assuma a campanha de vacinação em caxias. Mas o procurador-geral de justiça - chefe do MP - Luciano Mattos, ainda não se manifestou sobre este pedido.
Só a Procuradoria Geral tem competência para propor a intervenção e também só cabe ao procurador geral abrir processos contra o prefeito pela prática de crime de desobediência e contra a saúde pública.
Via G1
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