Um espaço cultural e educacional para receber crianças e dar a elas uma nova perspectiva de futuro foi aberto esta semana no bairro Pantanal...
Um espaço cultural e educacional para receber crianças e dar a elas uma nova perspectiva de futuro foi aberto esta semana no bairro Pantanal, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Além da importância para a região, a ação homenageia as primas Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7, que morreram após serem atingidas pelo mesmo tiro enquanto brincavam na porta de casa, na comunidade Barro Vermelho, em Gramacho, em dezembro do ano passado.
O Espaço Emily e Rebecca, criado pelo grupo Movimenta Caxias, oferece aulas de complemento escolar a 60 crianças e de balé a outras 90. A garotada, com idades entre 5 e 13 anos, mora no bairro. Ao todo, o projeto oferece quatro turmas de complemento escolar em dois turnos.
Para a coordenadora-geral do espaço cultural, a pedagoga Débora Amorim, de 33 anos, a proposta com a homenagem às primas vítimas da violência que assola as regiões mais pobres do Rio é ressignificar a vida e a esperança das famílias que serão ajudadas.
— É um chamado para o novo, que tem como objetivo a proteção da vida das nossas crianças e a garantia a direitos básicos: estudo, brincadeiras, arte e cultura. Além disso, elas estarão num lugar seguro. É uma proteção, inclusive contra a violência — explica Débora.
Inaugurado na última segunda-feira, o espaço conta com uma equipe de 13 voluntários e precisa de doações de material escolar e itens de papelaria como papel, canetas e lápis. Os organizadores aceitam doações via pix (brunagirassol3@gmail.com), também divulgado na página do movimento no Instagram.
O local onde o espaço foi construído para homenagear as meninas e oferecer educação foi cedido por Lucineia dos Santos, a Tia Lúcia, de 48 anos. Ela é uma liderança comunitária da região, que há cerca de 30 anos desenvolve ações de assistência a crianças na região. Quando soube da proposta do Movimenta, Tia Lúcia não pensou duas vezes em ceder o seu espaço para a construção de um projeto que poderia fazer a diferença para muitas famílias.
— Eles estão realizando o que sempre foi meu maior sonho: construir alguma coisa para as nossas crianças. Tem muita coisa boa aqui na comunidade. Temos crianças que são boas no futebol, que têm sonhos de serem jogadores, professores, enfermeiros... Elas só precisam de alguém que lhes dê a mão, que abrace o sonho delas — celebra.
Na entrada do projeto, um grafite com as imagens de Emily e Rebeca também eterniza as meninas.
Ana Lúcia, mãe de Emily, com o filho Pedro, de 6 anos, no espaço cultural. Foto: Domingos Peixoto
Mãe de Emily leva filho para participar de atividades
Mãe da menina Emily, Ana Lúcia Silva Moreira esteve no espaço ontem para levar o filho Pedro Henrique, de 6 anos, que pratica atividades no local. Ela diz que sente muita gratidão pela homenagem e iniciativa do Movimenta Caxias.
— O espaço é ótimo. Meu filho e todas as crianças são muito bem tratados aqui. É muito bom, porque tem criança que não pode ficar na rua brincando, porque possui esse direito de ir e vir, precisa ficar em casa, porque é tiro, polícia... Sou muito grata a cada um deles aqui — afirma Ana Lúcia.
Os pequenos desenvolvem atividades relacionadas a leitura, escrita e desenhos. A lista de espera para o complemento escolar já tem cerca de cem crianças, segundo os organizadores. Através de doações, também é oferecido lanche aos alunos no local.
As primas Emily e Rebecca brincavam na porta de casa quando foram atingidas por um tiro, que matou as duas, no dia 4 de dezembro de 2020, na comunidade Barro Vermelho. A família afirma que não havia tiroteio nem criminosos armados no local, e que o disparo teria partido de uma viatura da Polícia Militar. Os policiais negam.
O laudo de confronto balístico feito pela Polícia Civil entre as armas dos agentes e o projétil que atingiu as crianças teve resultado inconclusivo. Até agora não se sabe de onde partiu o disparo que tirou precocemente a vida das duas meninas. A tragédia causou comoção nacional na época.
Via Extra
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