Há cerca de um mês, uma denúncia da Linha Verde do Disque Denúncia levou agentes de policiamento ambiental ao entorno da Reserva Biológica d...
Há cerca de um mês, uma denúncia da Linha Verde do Disque Denúncia levou agentes de policiamento ambiental ao entorno da Reserva Biológica do Parque Equitativa, em Duque de Caxias. Segundo o Disque Denúncia, a reserva tem sido destruída diariamente com auxílio de retroescavadeiras.
No local, na Rua Princesa Isabel, os agentes constataram a degradação de uma área de 1.616 metros quadrados, mas nenhum suspeito foi encontrado. De acordo com a prefeitura de Caxias, se tratava de uma obra sem identificação de eventuais licenças. “O local foi embargado e deixada uma notificação para que o responsável compareça à SMMAPA para apresentação das licenças necessárias”, justificou a prefeitura.
Próximo dali, na Rua Euro, caminhões com a logo da prefeitura de Caxias circulavam carregando troncos de árvores e tratores atuavam em uma área de desmate. Questionada, a prefeitura de Caxias não informou o que os caminhões estavam fazendo no entorno da Rebio. Segundo dados da Linha Verde, o município de Duque de Caxias liderou as denúncias sobre desmatamento florestal entre as cidades da Baixada Fluminense em 2021. Foram registradas 52 denúncias do tipo, e 42 sobre extração irregular de árvores.
Homens com camisa da prefeitura operam retroescavadeiras no entorno da Rebio Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Nos limites da Rebio, um bairro de classe média alta toma forma. Mas as construções imobiliárias não são a única ameaça à conservação de espécies nativas da Mata Atlântica que vivem na reserva biológica. Unidades de conservação deste tipo não permitem visitação. Na entrada da Rebio, uma placa que alerta sobre isso está jogada no chão: “Reserva Biológica Parque Equitativa, entrada proibida por lei federal”. Neste local, um homem com uma banca vende óleo ungido a fiéis que conhecem a reserva como “Monte do Azeite”.
Reserva Biológica Parque Equitativa em Duque de Caxias está sendo derrubada para a construção de casas. Além de servir como igreja a céu aberto por fiéis que vão ao local orar Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Logo ao ultrapassar a grade que indica o limite da Rebio, é possível visualizar uma trilha aberta para seu interior. A trilha com terra já batida, sem indício de vegetação no seu rastro, indica o caminho para áreas onde barracas de camping, tendas e inclusive um altar estão montados. Sob o altar, a mesma placa alerta para a proibição de pessoas no local, mas não inibe a presença de fiéis que oram em grupos em diversos pontos da reserva biológica. Na trilha há ainda indícios de fogo, embora placas alertem “não queime na árvore” ao longo do caminho. Outra placa também orienta: “lixo aqui não. Satanás, você não vai fechar esse monte”. Mas mesmo assim, no local ainda há muito lixo no caminho das trilhas. Embalagens de alimentos, garrafas de água e papéis estão espalhados no chão da mata.
Campings e tendas no interior da Reserva Biológica do Parque Equitativa; lugar é utilizado por fiéis para orações; entrada é proibida Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Criada em 2009, a Reserva Biológica do Parque Equitativa é um refúgio para espécies como mico leão-dourado, tatu, paca e diversas espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos da Mata Atlântica, e constitui o que é chamado por especialistas de “mosaico de conservação fluminense”.
Segundo o biológo e professor da Unigranrio, Leandro Duarte, a Rebio Parque Equitativa é uma “porta de entrada” para outras unidades de conservação da região.
— Essa reserva é fundamental para várias unidades de conservação, porque ela é a porta de entrada. Logo depois tem a APA de Petrópolis, e depois o Parque da Estrela. Do outro lado da subida da serra de Petrópolis tem a Rebio do Tinguá. Se não proteger a Reserva do Parque Equitativa pode prejudicar todas essas outras unidades. É um efeito em cadeia, que atinge até a Rebio do Poço das Antas, em Silva Jardim, onde tem o maior número de mico-leão-dourado. O Parque Equitativa tem corredor ecológico até lá — explica.
Além da preservação da fauna e flora, a área tem importância para a manutenção dos recursos hídricos, segundo o biólogo.
Arvore derrubada com as raízes expostas dentro da Rebio Parque Equitativa e fiéis orando Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Em dezembro do ano passado, a prefeitura alterou por lei a extensão da Rebio Parque Equitativa, diminuindo sua área. Para o professor de geografia da UFRRJ, Cleber Marques de Castro, isso deve gerar aumento da ocupação humana no entorno.
— Tinha que ter investimento da prefeitura em uma espécie de guarda municipal ambiental, que ficasse patrulhando a unidade. Diminuir a extensão da Rebio vai fazer com que as pessoas construam nessa área. Só está dando espaço para ocupação humana e aumentando a pressão sobre essa unidade de conservação — afirma.
Procurada, a prefeitura de Caxias disse que a lei que alterou a extensão da reserva faz parte do cumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que o proprietário de uma área particular onde foi criada a Rebio Equitativa doou a área da reserva para o município desistindo do pleito de indenização pela desapropriação. Ainda de acordo com a prefeitura, “houve a liberação de uma área onde havia um empreendimento na franja do imóvel”.
Sobre os cultos evangélicos dentro da Rebio, a prefeitura disse que a reserva é cercada por um loteamento particular onde grupos praticam orações e retiros espirituais, embora os cultos aconteçam em área de mata e dentro da reserva segundo indicação das placas no local.
Via Extra
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