O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar o caso do cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silv...
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar o caso do cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva, que foi preso por suspeita de manter uma paciente em cárcere privado dentro do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A família da vítima afirmou à polícia que ela estava sendo obrigada a ficar no hospital há quase dois meses, desde que um procedimento estético deu errado.
O cirurgião equatoriano passou a noite na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Caxias. Ele foi transferido na manhã desta terça-feira (19) para o Presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio. À tarde deve ser realizada a audiência de custódia. Bolívar está preso temporariamente e vai responder por cárcere privado e associação criminosa.
Também nesta terça-feira, está sendo aguardada na Deam de Caxias uma enfermeira do Hospital Santa Branca para prestar depoimento. Outras pessoas da equipe médica foram intimadas a depor.
A família da paciente Daiana Cavalcanti, de 36 anos, conta que ela fez uma abdominoplastia com o cirurgião, em março. Em junho, ela retornou ao hospital para outras três intervenções e, desde então, a situação dela só piorou. Segundo a polícia, a paciente está em estado grave, com várias complicações. Ela tentou ser transferida de hospital, mas familiares dizem que o médico dificultou a transferência.
"Meu peito está todo necrosado. Eu estou com buraco na barriga. Dois. Um debaixo do umbigo. Eu não vejo o meu umbigo. Ele falava que não era para mim (sic) contar para ninguém que eu estava assim. Não era para mim (sic) contar para minha família. Não pode andar no corredor, não podia fazer nada. Só ficar trancada dentro daquele quarto que eu estava. Meu sentimento é de apavoramento, de dor, de angústia, de querer ir embora, de querer sair daqui", disse a paciente ao celular.
A delegada Fernanda Fernandes pediu o prontuário médico da paciente, mas não recebeu o documento. "Nós requisitamos o prontuário, o relatório médico ao longo da semana e não nos foi fornecido. Reiteramos o pedido avisando da gravidade do caso que a gente estava investigando e o prontuário não foi entregue. Diante da gravidade do caso, nós fomos até o hospital e tentamos ouvir a vítima. Antes entramos em contato com a vítima e ela falou para o policial: Doutor, pelo amor de Deus, me tira daqui", contou a delegada.
O pai da vítima, Paulo Lacerda, esteve na delegacia no começo da noite de segunda-feira (18). E disse: "O que ele fez na barriga da minha filha não é brincadeira, não. É demais. Ela queria ficar vaidosa, se ajeitar. Mas não merecia isso", lamentou o pai.
A vítima permanecia no hospital até o fim da tarde de segunda-feira. A família ainda estava decidindo para onde ela seria transferida. Depois que a notícia veio à tona, outras quatro possíveis vítimas procuraram a Deam de Caxias.
O médico Bolívar Guerrero Silva trabalha em Caxias desde 1996 e é popular na internet. Numa rede social, na qual posta o dia a dia no centro cirúrgico, ele soma quase 40 mil seguidores.
Em 2010, ele foi preso durante a operação Beleza Pura, da Polícia Civil, acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa, além de outros medicamentos falsificados.
Bolívar responde a pelo menos 19 processos. Em 2016, a paciente Cíntia Fernandes de Oliveira, de 39 anos, morreu na sala de cirurgia durante uma lipoescultura. A cirurgia foi feita por ele. A família da paciente acusou o cirurgião de imprudência.
Em janeiro de 2017, a Vigilância Sanitária Estadual interditou um setor do Hospital Santa Branca. A central de material esterilizado foi fechada. A Secretaria de Saúde alegou que a unidade não tinha estrutura física adequada e apresentava processos de trabalho.
Mesmo com tantos problemas judiciais, em outubro de 2018, o médico foi homenageado na Câmara dos Vereadores de Caxias com o título de cidadão caxiense. O título foi concedido pelo vereador na época, Júnior Reis, irmão do atual prefeito de Caxias, Washington Reis.
A polícia acredita que o número de vítimas do cirurgião possa ser maior. A delegada Fernanda Fernandes disse que vai investigar todas as outras ocorrências que estão chegando à delegacia.
A produção do Bom Dia Rio não conseguiu contato com a defesa do médico Bolívar Guerrero Silva.
O Hospital Santa Branca afirmou que as acusações de cárcere privado na unidade são infundadas e absurdas. Disse ainda que repudia as práticas criminosas que foram atribuídas ao hospital.
O que diz o hospital
"Hospital Santa Branca Ltda vem através de sua diretoria em atenção aos comunicados veiculados nas mídias escritas, narradas e digitais manifestar-se publicamente sobre acusações infundadas de CÁRCERE PRIVADO no interior das suas dependências.
Tal crime decorre do verbo encarcerar, que significa deter, ou prender alguém indevidamente e contra sua vontade. No crime de cárcere privado, a vítima quase não tem como se locomover, sua liberdade fica restrita a um pequeno espaço físico, como um quarto ou um banheiro.
Com 43 anos de funcionamento, essa Unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Nossas salas cirúrgicas são locadas.
Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda!
Além disso, o Dr. Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário desta empresa, como descrito pela imprensa."
Via G1
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