A publicação de uma portaria do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro), que reajustou em 11,96% o preço...
A publicação de uma portaria do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro), que reajustou em 11,96% o preço das tarifas dos ônibus intermunicipais, condicionando a validade do aumento apenas a veículos climatizados, acabou causando uma espécie de efeito colateral para o passageiro. É que sem ter a frota totalmente climatizada, algumas empresas passaram a usar tarifas diferenciadas nos coletivos urbanos sem ar-condicionado que rodam no mesmo itinerário dos equipados com ar( e que não são do tipo frescão). A reportagem é do Jornal Extra
A portaria foi publicada no Diário Oficial no dia 13 de fevereiro. Segundo o documento, apenas coletivos climatizados fazem jus aos novos valores, que começaram a vigorar no último dia 18, num sábado de carnaval.
Com janelas abertas e sem ar-condicionado ônibus da Viação Ponte Coberta tem preço mais baixo sem climatização na Linha Nilópolis x Campo Grande Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo
Com a solução escolhida pelas empresas, caso um veículo climatizado inicie o trajeto intermunicipal, a cobrança da passagem é feita com o valor reajustado. Mas, se for um veículo sem climatização, mais conhecido como quentão, o preço cobrado deverá ser o antigo, ou seja o que era cobrado antes do reajuste regularizado pela portaria. Segundo o Detro, a cobrança diferenciada não é ilegal, já que o aumento foi concedido apenas a veículos climatizados que exploram linhas intermunicipais. Em compensação, o que sobra para quem passa na roleta é confusão.
É que, na prática, só é possível saber o valor exato a ser desembolsado na hora de embarcar no coletivo, quando é descoerto se o carro é ou não climatizado. O EXTRA percorreu, entre terça-feira e quarta-feira, os terminais rodoviários de Nova Iguaçu, Nilópolis, na Baixada Fluminense, e o Américo Fontenelle, na Central do Brasil, no município do Rio, e encontrou dezenas de exemplos de cobrança diferenciada. Em quase todos os casos, placas foram anexadas no lado de fora dos ônibus, e nas cabines de fiscalização nos pontos finais, com o aviso da cobrança de preços diferentes.
Joel Rocha em um ônibus quentão diz que veículos deveriam ter um só preço Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo
A Viação Ponte Coberta, que faz a linha que liga Nilópolis a Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, é uma das empresas que colocou o aviso da cobrança de valores diferentes. No trecho, a passagem com ar-condicionado custa R$ 5,75, conforme a placa presa na carroceria do veículo. Já sem climatização, o valor cai para R$ 5,15.
— Com esse calor todo que tá fazendo eu preferia até pagar mais. Essa viagem com o calor é muito ruim — disse o vendedor João Retonde, de 23, antes de embarcar em um quentão.
Na Central do Brasil, também foram notadas placas de avisos de preços diferenciados em ônibus comuns da empresa Limousine Carioca e da Viação Jurema, que exploram linhas que ligam a Central a Duque de Caxias. Em ambos, a passagem com climatização custa R$ 7,75. Sem o conforto, o preço é de R$ 6,95
.— Tinha que pagar um preço só para ônibus com ar e sem ar. A gente já paga muito pela passagem e oferecem pouco conforto — se queixou o passageiro Joel Rocha, suando em um coletivo sem climatização da Viação Jurema.
Já em Nova Iguaçu, a Master, que faz a linha entre Caxias e Nova Iguaçu, é uma das empresas com a cobrança diferenciada.
.— Preferia pagar mais caro e ir com ar. É sempre melhor com conforto. Aqui dentro é quente demais, sem climatização — disse o administrador Alexandre Souza, de 35, enquanto esperava sentado em um dos bancos do ônibus, a saída do coletivo quentão.
Além dos preços diferenciados, passageiros também se queixaram do mau funcionamento da climatização.
— Nem sempre o ar está funcionando. Às vezes, a gente fica suando dentro dos ônibus — disse Eliane Pereira, antes de entrar, nesta terça-feira, em um coletivo da linha que liga Nova Iguaçu a Paracambi, via Japeri.
Procurado, o Detro disse que após o reajuste das linhas intermunicipais, 36 multas foram aplicadas somente na Baixada Fluminense. Já no segundo dia de carnaval, 66 veículos foram fiscalizados nos terminais rodoviários do Rio de Janeiro, Niterói, Volta Redonda e Nova Iguaçu. Deste total, três foram autuados e um apreendido por ar-condicionado inoperante. O órgão disse que reclamações podem ser feitas pelo telefone ( 21 ) 3883-4141. Ou pelo e-mail ouvidoria@detro.rj.gov.br.
Segundo a Federação das Empresas de Mobilidade Urbana , 70% da frota atual dos ônibus em circulação no Estado do Rio de janeiro possui ar-condicionado.
Também procurados, o Transônibus , que representa empresas de Nova Iguaçu e de oito municípios, e o Setransduc, que representa empresas de Duque de Caxias e de Magé, emitiram nota esclarecendo que estão comprometidas com o cumprimento das normas estabelecidas pelo Detro, que determinou valores diferenciados para ônibus com e sem ar-condicionado nas linhas intermunicipais.
Segundo a nota, todos os veículos climatizados são identificados por adesivos e contam com avisos que informam os novos preços em vigor.O documento diz ainda que é preciso ressaltar esforços que as empresas estão promovendo para o adequado funcionamento do sistema de climatização da frota em circulação, fato severamente agravado pela falta de peças no mercado para manutenção dos equipamentos. A nota encerra lembrando que um desequilíbrio financeiro atinge o setor de transportes nos últimos anos.
Perguntado sobre o número de empresas que praticam a cobrança diferenciada de tarifas, e o total de passageiros transportados atingidos pelos valores diferentes, os dois sindicatos não enviaram resposta sobre os questionamentos.
Por Marcos Nunes
Via Extra
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